domingo, 15 de março de 2015

DINHEIRO DÁ EM ÁRVORE SIM!

Os investimentos em empreendimentos florestais são seguros e com boa rentabilidade, mas é preciso ter muito claro a complexidade do negócio e os seus riscos e potencialidades. Por isso tem crescido a importância de um detalhado plano de investimentos e um sólido estudo do mercado. "Os cenários futuros são muito importantes tendo em vista a característica de longo prazo de um projeto florestal. No investimento florestal não há uma segunda chance... se houver falha do projeto, o horizonte do negócio prejudicará a capacidade de geração de lucro ao investidor"
Marcio Funchal, diretor da Consufor
Colocar dinheiro em floresta vale a pena, seja em forma de plantio como no manejo de nativas. Essa é a opinião de quem entende do assunto. Mas apesar de rentável e principalmente seguro, não dá para apostar de olhos fechados. Os investimentos em
plantios devem ser estudados com cuidado e o manejo florestal sustentável precisa ser bem dimensionado.
Conversamos com especialistas que apontaram quais são as perspectivas de retorno, tendências de mercado e quais são os pontos mais importantes que devem ser observados para quem deseja lucrar ao investir em um negócio florestal.
A pessoa que está interessada em investir em floresta sabe que o retorno vem em longo prazo. “Esse é o tipo de investimento que, por mais que não dê um retorno
muito grande, sempre vai ser bem sucedido. A ação sobe e desce, o mercado pode desmoronar de uma hora para outra”, considera Fábio Brun, diretor-executivo da
RMS do Brasil. Por outro lado a relação risco-retorno de um investimento florestal está entre um dos menores do mercado, ou seja, é seguro.
O primeiro passo para se implantar um projeto florestal, assim como qualquer outro projeto empresarial, é analisar detalhadamente o mercado consumidor regional, incluindo a situação atual e as perspectivas dos próximos anos, englobando os aspectos de custos, preços, oferta, demanda, disponibilidade de recursos humanos, materiais e etc. “Os cenários futuros são muito importantes tendo em vista a característica de longo prazo de um projeto florestal”, ressalta Marcio Funchal, diretor de consultoria da Consufor.
Existem fatores essenciais que devem ser observados e que têm impacto direto na relação investimento e retorno: o crescimento biológico, que é afetado pela tecnologia de plantio, material genético, fatores adversos (fogo, pragas) e pelos tratamentos silviculturais; e o mercado, que é afetado pela oferta e demanda, fatores intra e extrassetoriais e desenvolvimento tecnológico e produto. “Além desses aspectos deve-se levar em consideração a escala mínima, logística para transporte, espécie, financiamento e outros elementos”, completa Jefferson Dorigon Garcia, consultor florestal.
PLANTADAS
A espécie mais plantada no Brasil é o eucalipto, cerca de 5,5 milhões de ha hectares). Cada região e caso possuem taxas de investimento e retorno diferentes. A TMA (Taxa Mínima de Atratividade) é o indicador que mostra ao investidor os ganhos financeiros. Uma das formas de se analisar um investimento é confrontar a TIR (Taxa Interna de Retorno) com a TMA do investidor. Pode parecer meio complicado o economês, mas acredite é possível entender.
Considerando uma TMA de 8% a.a. (ao ano) no caso das plantações de eucalipto (como no exemplo em destaque), o VPL (Valor Presente Líquido) alcançou em média R$ 2.395 e a TIR 13,5%. “Nesse caso é recomendável o investimento no projeto”, avalia Jefferson. Para o caso das plantações de pinus com a mesma TMA (8% a.a.), o VPL alcançou R$ 1.420 e a TIR 10,5%. Apesar de retorno menor do que o eucalipto o investimento ainda vale a pena. “Esses dois exemplos significam que o fluxo de entradas de investimento é maior que o de saída”, resume o consultor.
Segundo Marcio Funchal, os retornos reais (acima da inflação) variam conforme a região e regime de manejo adotado. “De modo geral, os retornos devem ficar entre 8% e 12% em termos reais”, informou o executivo. É importante ter em mente que o valor da terra depende muito da região e de suas características. Enquanto em Tocantins o valor bruto do ha para plantio florestal está próximo de R$ 2 mil, no Rio Grande do Sul, mercado ainda com potencial de crescimento, o valor supera R$ 4 mil. “Os próprios custos de silvicultura poderão variar significativamente de acordo com a região, tipo de solo, topografia e etc”, elenca Marcio. Em média, nas regiões consolidadas, o custo de eucalipto para os 7 anos, englobando plantio mais manutenções, se aproxima de R$ 6 mil, já o pinus não passa de R$ 4 mil. “Cabe lembrar que esses custos são desembolsados ao longo do ciclo de produção, e não apenas no ano inicial”, completa o diretor da Consufor. Além do custo da terra e silvicultura não se pode esquecer do custo de gestão do plantio, que irá variar de acordo com a estrutura fixa de cada empreendimento.
PINUS X EUCALIPTO
Apesar das duas espécies serem exóticas e terem se adaptado muito bem no Brasil, quando se fala em investimento, as diferenças entre pinus e eucalipto existem
e não são poucas. Elas já começam pelo tipo de solo e clima necessários para cada gênero florestal. O consumidor final, variável fundamental, também é bastante diferente. “Enquanto o foco do pinus é ciclo longo (15 a 25 anos) para produzir madeira fina para celulose e painéis reconstituídos, madeira grossa para serraria e lâminas/compensados, o eucalipto tem foco no ciclo curto (6 a 7 anos) para produção de madeira para celulose, carvão, energia e madeira tratada (mourões, cercas, palanques e etc)”, compara o executivo da Consufor.
Nem tudo é regra. Algumas regiões do país usam eucalipto para produtos de madeira sólida, “mas ainda não é um mercado estabelecido como o pinus e o foco
continua no ciclo curto”. De acordo com Marcio, as regiões mais indicadas para o pinus, do ponto de vista de mercado já estabelecidos, são a região sul e sul de São
Paulo. Para o eucalipto o que predomina, além da região sul, estão sudeste, Mato Grosso do Sul e Bahia. Todas essas já possuem consumo estabelecido, cada uma com condições específicas. A região chamada de nova fronteira (Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Maranhão e Piauí) tem se apresentado como uma oportunidade futura. “Os plantios já estão ocorrendo, mas ainda a demanda futura dependerá da capacidade dessas regiões atrair as indústrias consumidoras necessárias”, completa.
RETOMADA
Para Fábio da RMS do Brasil, apesar das quedas de retorno ainda vale a pena investir em floresta no Brasil. A empresa gerencia ativos florestais nos EUA (Estados Unidos da América) onde controla um milhão de ha, além de China, Nova Zelândia e Austrália. A maior parte dessas florestas é de pinus. Está atuando no Brasil desde 2008 e gerencia áreas em Santa Catarina, Paraná e São Paulo. “A floresta no Brasil é de alta qualidade e produtividade, existe um mercado sólido, principalmente na área de pinus”, opina Fábio. Para ele, isso é o que faz valer a pena investir no Brasil, apesar da falta de suporte governamental, alta tributação e burocracia exagerada.
De acordo com Fábio, está em fase de recuperação. “Pra se ter uma ideia, agora estamos tendo produto com o preço nominal que chegou ao patamar do que era vendido em 2007.” Ele avalia que houve uma retomada nos últimos dois anos bem evidente. Boa parte disso tem a ver com o mercado externo. “Começamos a exportar mais, teve uma recuperação dos EUA, apesar de fraca, mas está ajudando o Brasil”, aponta o executivo da RMS.
Os melhores preços estão nos sortimentos com 25 cm (centímetros) de diâmetro, abaixo de 18 cm, que é o material para celulose e processo, a oferta está superior à
demanda por isso o valor não está o ideal. Jefferson ressalta que é preciso diversificar o mercado. “Não acredito que a manutenção de apenas um comprador seja uma estratégia interessante, mesmo com contratos firmados de longo prazo”. A melhor forma é atuar com diferentes tipos de indústria de acordo com o manejo da floresta (fornecimento de madeira de diferentes dimensões) com preços diferenciados.
A boa notícia é que a necessidade em aumentar a área plantada é crescente em todo o mundo. Os plantios são fundamentais para atender a demanda futura de madeira. “Como macro tendências tem-se: aumento de área e da produtividade, concentração em poucas espécies, o aparecimento de novos investidores ganhará
mais importância, novas fronteiras (regiões e países), surgimento de uma nova indústria mais competitiva, além de aumento da importância ambiental”, aponta Jefferson.
Segundo Marcio da Consufor, para atender a demanda mundial serão necessários 35 milhões de ha adicionais de pinus e eucalipto em escala mundial. “O Brasil como um país com disponibilidade de terra, clima favorável resultando nas maiores produtividades florestais do mundo e know-how acumulado ao longo dos últimos 60 anos, certamente será responsável por boa parte dessa expansão.”

Fonte: Revista Referência, Edição de Dezembro de 2014.

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