Quanto
renderiam R$ 3 mil aplicados em uma caderneta de poupança durante 13 anos?
Pelas novas regras anunciadas no mês passado pelo governo federal, seria
possível resgatar não mais do que R$ 5,4 mil. Mas, se esse mesmo valor fosse
investido no plantio de árvores nobres, como mogno africano, teca, ou mesmo em
seringueira, acácia e eucalipto, a conta ficaria mais atraente.
Enquanto
na poupança o rendimento gira em torno de 6% ao ano, no eucalipto, por exemplo,
a rentabilidade beira os 13%. Um hectare de eucalipto, em uma conta
simplificada, se transformaria em R$ 36 mil após 13 anos, seis vezes mais do
que a poupança tradicional.
Nos
cálculos entram apenas os custos com o preparo de solo, adubação, controle de
ervas daninhas, com a compra das mudas e as receitas obtidas com a venda de 300
metros cúbicos de madeira, hoje cotada a R$ 120 o metro cúbico. “Com essa
idade, a madeira pode ser vendida para o setor moveleiro”, diz o professor
Márcio Lopes da Silva, da Sociedade de Investigações Florestais (SIF),
departamento de engenharia florestal da Universidade Federal de Viçosa (MG).
Segundo
ele, o cultivo da madeira como poupança é uma atividade recente no País. “Olhar
uma árvore como poupança é um dado novo no setor e uma tendência crescente”,
diz Lopes da Silva. “A produção funciona como um fundo de investimentos e o
produtor dispõe dele no momento em que achar necessário.”
Segundo
César Augusto Reis, diretor-executivo da Associação Brasileira de Florestas
(Abraf), em Brasília, o cultivo da madeira é de ciclo longo, por isso, pode
entrar na propriedade como atividade complementar. Muitas empresas têm
programas de fomento, com doação de mudas, insumos e garantia de compra da
madeira , diz. “Quem quer a madeira como poupança também pode aproveitar
oportunidades como essas”, diz o diretor.
A
seringueira para a extração de borracha é outro cultivo que também está sendo
visto como poupança. A pecuarista Carmen Perez e sua irmã Carolina Perez,
empresária do ramo de turismo, decidiram trocar as inúmeras ofertas de títulos
de renda fixa e ações pela aposta no plantio de seringueira.
“Eu
precisava de um novo desafio e também melhorar a parte econômica da pecuária”,
diz Carmen. Na fazenda Orvalho das Flores, no município de Araguaiana, em Mato
Grosso, na qual ela cria 3,8 mil animais da raça nelore, foram separados para o
cultivo das árvores 280 hectares, do total de quatro mil hectares. Nesse
pequeno pedaço de terra foram plantados 100 mil pés de seringueira, entre
outubro e dezembro do ano passado.
Dentro de
11 anos, quando a área estiver em plena produção de látex, Carmen espera ter
uma renda anual de R$ 960 mil com os 100 mil pés de seringueira. “Com a renda
extra, vou intensificar a área da pecuária”, diz. Se levar em consideração a
produtividade anual média de uma tonelada de borracha por hectare (a R$ 3,80 o
quilo), as contas de Carmen são até conservadoras.
Em 11
anos, sua poupança verde poderia ultrapassar a casa do milhão de reais.
“Cultivar seringueiras é um trabalho artesanal e requer muita mão de obra”,
afirma Carmen. “O custo no primeiro ano da planta é altíssimo.” Para cada muda,
até a sangria do látex, de acordo com estudo de Carmen, o custo fica em torno
de R$ 16. “A adubação é constante, é preciso muita água para a planta, investir
em herbicidas, além de mão de obra”, diz.
“Hoje
tenho sete funcionários somente para cuidar das plantas.” Mesmo assim, Carmen
diz que o investimento vale a pena: “o mercado de borracha também não para de
crescer”. De acordo com a Associação Paulista de Produtores e Beneficiadores de
Borracha (Apabor), com sede em São José do Rio Preto, até 2030 o País deve
chegar a um consumo anual de um milhão de toneladas de borracha natural. Quem
produzir, vai ter mercado. Ainda hoje, a produção, de 460 mil toneladas, atende
apenas a 70% do consumo no mercado brasileiro.
A irmã de
Carmen, Carolina Perez, começou a investir em seringueira também de olho na forte
demanda interna. Mas Carolina, que idealizou o Travelweek São Paulo, não tinha
nenhuma relação com o mundo rural, até o fim do ano passado. Ela embarcou no
plantio de árvores, influenciada pela irmã. Carolina comprou a Fazenda do
Bosque, de 245 hectares a 10 quilômetros da Orvalho das Flores, e plantou 100
mil pés de seringueira. “Agora é cuidar da produção para o dinheiro investido
também crescer”, diz.
Fonte: REMADE/Isto É
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