sábado, 30 de março de 2013

Silvicultura para a Amazônia

Henrique Nery Cipriani, pesquisador da Embrapa Rondônia, e-mail henrique.cipriani@embrapa.br
Eucalipto apresenta elevada
produtividade aceitação no
mercado

A população mundial aumenta ano após ano, o que resulta em maior demanda por alimentos, fibras e energia. Em muitos países, como o Brasil, não só cresce o número de habitantes como, também, o poder aquisitivo das pessoas, que consomem cada vez mais produtos essenciais e supérfluos. Assim, é natural que a demanda por matérias-primas cresça aceleradamente. Dentre essas matérias-primas, está a madeira, presente em todos os lares, ruas e comércios, na forma de móveis, papel e até mesmo no aço.
Antigamente, a madeira era obtida somente das florestas nativas, dado o baixo consumo e a abundância de florestas, especialmente no Brasil. Ainda hoje, as florestas nativas são de grande importância para o suprimento de madeira. Porém, mesmo no período colonial, já se reconhecia a possibilidade de escassez de algumas espécies, como o mogno, o guanandi e o pau-brasil, ditas “madeiras de lei”, por terem sua exploração controlada pelo reinado português.
Por abranger regiões de alta densidade demográfica, a Mata Atlântica era a principal fonte de madeira para os brasileiros. Entretanto, à medida que a demanda por produtos madeireiros crescia, a floresta se extinguia. Percebendo que essa exploração não se sustentaria, pioneiros, como o engenheiro agrônomo Navarro de Andrade, introduziram os eucaliptos (espécies nativas da Austrália) no Brasil e implantaram povoamentos florestais, no início do século XX, com o intuito principal de produzir dormentes para estradas de ferro. Foi um marco para a silvicultura, ou seja, o cultivo de árvores, no Brasil.
Toras de eucaliptos
Atualmente, a silvicultura responde por mais de 70% da produção de madeira no país (segundo levantamento do IBGE), sendo os principais produtos a celulose, o carvão e a lenha. Contudo, isso não vale para a região Norte, onde a Floresta Amazônica ainda supre a maior parte da demanda por produtos madeireiros e não-madeireiros. Esse quadro também deve se reverter a longo prazo, visto que o desmatamento na Amazônia é combatido com intensidade cada vez maior e o manejo florestal sustentável, embora importante, não pode assegurar o suprimento de madeira no ritmo de crescimento da demanda, especialmente para fins energéticos.
Alguns estados da região Norte, como o Amapá, Roraima, Tocantins e o Pará possuem consideráveis extensões de florestas plantadas, dada a existência de siderúrgicas e fábricas de celulose na região. Já no Amazonas, no Acre e em Rondônia, as áreas ainda são pequenas, mas crescentes. A princípio, o principal produto das florestas plantadas destes estados deve ser a lenha, para o abastecimento de caldeiras de cerâmicas, frigoríficos, graníferas e termelétricas, além de fornos de panificadoras e restaurantes.
Não obstante, a crescente demanda por madeira para fins energéticos, o plantio de árvores para produção de madeira serrada, tratada e painéis de madeira, nos estados da região Norte, também pode ser uma alternativa economicamente viável, podendo-se trabalhar em sinergia com o manejo florestal sustentável. Afinal, serrarias, marcenarias e fábricas painéis de madeira, geralmente, podem beneficiar tanto madeiras nativas quanto exóticas.

Espécies cultivadas

Sementes de bandarra: a espécie
possui considerável área plantada
concentrada no Tocantins e no
Pará.
Em se falando de espécies florestais para cultivo, atualmente, os eucaliptos são os mais cultivados, ocupando mais de 6,5 milhões de hectares no Brasil (74% do total de florestas plantadas), segundo a Associação Brasileira de Produtores de Florestas Plantadas (Abraf). Com exceção de Roraima, onde a acácia-mangium parece ser preponderante, nos demais estados da região Norte os eucaliptos também são as principais espécies cultivadas.
A preferência pelos eucaliptos se explica por sua elevada produtividade, plasticidade (podem ser cultivados em diversas condições edafoclimáticas), multiplicidade de uso (lenha, celulose e madeira serrada, por exemplo), disponibilidade de material genético e aceitação no mercado. Apesar de ser a segunda essência mais cultivada no Brasil, os plantios de pinos na região Norte são tímidos, provavelmente devido à baixa demanda por celulose de fibra longa, madeira e resina pelas fábricas da região.
Ainda com relação às espécies exóticas, uma espécie que tem sido cada vez mais plantada na Amazônia Legal é a teca (Tectona grandis), conhecida por sua madeira nobre, de alto valor de mercado. Já grandes extensões de acácia-mangium existem basicamente em Roraima. A acácia-mangium, assim como os eucaliptos, é relativamente rústica e presta-se para a produção de lenha, celulose, madeira serrada e mel. Também é fixadora de nitrogênio atmosférico, sendo bastante empregada em recuperação de áreas degradadas. Porém, não há disponibilidade de materiais melhorados e sua aceitação no mercado regional não é tão alta.
A Teca conhecida por sua madeira nobre,
tem alto valor de mercado.
Com relação às espécies nativas, para produção de madeira, apenas o Schizolobium parahyba var. amazonicum, conhecido como paricá ou bandarra, possui considerável área plantada (cerca de 85 mil hectares), concentrada em Tocantis e no Pará. A espécie possui rápido crescimento e seu principal uso é a fabricação de laminados.
A Floresta Amazônica possui uma grande diversidade de espécies nativas com potencial para produção de madeira, como o pau-de-balsa (Ochroma pyramidale), a sumaúma (Ceiba pentandra), o taxi-branco (Sclerolobium paniculatum), o ipê (Handroanthus spp.) e o tauari (Couratari spp.). Domesticar essas espécies é fundamental para garantir a perpetuidade do setor florestal, pois pode evitar o esgotamento das árvores de remanescentes florestais e garantir o suprimento de produtos diversificados, tanto para o mercado interno quanto para exportação.
Nesse sentido, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) busca elaborar um portfólio de silvicultura de espécies nativas. O objetivo é facilitar o gerenciamento de projetos de pesquisa e canalizar esforços para solucionar os principais problemas que envolvem a domesticação dessas espécies, valorizando a biodiversidade brasileira. O plantio de espécies nativas, no entanto, não compete com o de exóticas. O fomento da silvicultura como um todo pode beneficiar a região Norte, aumentando sua participação num mercado que movimenta mais de 50 bilhões de reais por ano.
Fotos: Embrapa-RO, Kadijah Suleiman e Daniel Medeiros
Fonte: Embrapa Rondônia 

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