As novas oportunidades de negócios relacionadas com as tecnologias de baixo carbono ajudarão a estimular o desenvolvimento sustentável do planeta, aponta relatório do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas
Já há algum tempo o setor privado vem percebendo que
falar em ‘economia verde’ não é apenas uma questão de ser amigável ao meio
ambiente, mas uma nova maneira de fazer negócios que gera muitas oportunidades
e ganhos.
Um
novo relatório do Programa de Meio Ambiente das Nações Unidas (PNUMA), constata
essa tendência, apontando que produtos e serviços sustentáveis podem estimular
o crescimento econômico mundial e tirar milhões da pobreza.
Intitulado Economia e Comércio Verde: Tendência, Desafio e
Oportunidade, o documento afirma, por exemplo, que o mercado
global de baixo carbono e tecnologias de eficiência energética triplicará até
2020, chegando US$ 2,2 trilhões.
“Realizar
a transição para a economia verde pode facilitar novas oportunidades
comerciais, as quais podem ajudar a fazer o comércio mundial mais sustentável”,
afirmou Achim Steiner, sub-secretário-geral e diretor executivo do PNUMA.
O
relatório destaca que as grandes nações em desenvolvimento, incluindo o Brasil,
têm tudo para serem as maiores beneficiadas por essa transição, pois são países
com abundantes reservas de recursos renováveis e ambientais.
“O
comércio de produtos e serviços ambientais é claramente uma área na qual muitos
países em desenvolvimento apresentam uma vantagem competitiva. Com as políticas
certas e com regimes de preços atuando, essas nações estariam muito bem
posicionadas para ajudar a incentivar a transição global para uma economia mais
sustentável”, explicou Steiner.
Seis
Setores
O
PNUMA analisou seis setores – agricultura, pesca, florestas, manufatura,
energia renovável e turismo – considerados fundamentais para o avanço de um
modelo econômico mais sustentável.
De
acordo com o relatório, a agricultura está sob constante ameaça por causa da
perda da biodiversidade e dos serviços ambientais, das mudanças climáticas e da
escassez dos resíduos hídricos. Continuar com o modelo atual servirá apenas
para agravar esses perigos.
“Por
outro lado, métodos de produção mais sustentáveis melhorarão a produtividade e
garantirão o futuro da atividade. Além disso, permitirão que mais agricultores
tenham acesso às redes internacionais de mercadorias certificadas”, afirma o
documento.
O
mercado global de alimentos orgânicos e bebidas, por exemplo, deve crescer para
US$ 105 bilhões até 2015, sendo que estava estimado em US$ 62,9 bilhões em
2011.
Sobre
a pesca, o PNUMA alerta que as dez mais importantes espécies do setor estão
sendo comercializadas em níveis muito além do que seria sustentável para manter
as populações constantes.
“Apesar
de a redução da pesca ser uma necessidade, o crescimento do comércio de
produtos certificados pode melhorar os ganhos do setor ao agregar valor e
aumentar a produtividade.”
Ainda
sobre a pesca, o relatório aponta as oportunidades de aquicultura, um mercado
que deve chegar a US$ 1,25 bilhão até 2015.
A
cobertura florestal mundial está caindo e as pressões sobre as reservas devem
continuar crescendo, aponta o PNUMA. Nesse sentido, uma transição para a
economia verde forçaria a adoção de melhores práticas de exploração e exigiria
certificados e padrões de qualidade.
Atualmente,
a venda de produtos florestais certificados já movimenta mais de US$ 20 bilhões
ao ano, um valor que cresceria exponencialmente se mais países obrigassem seus
mercados internos a comprar apenas madeira com origem comprovada.
O
documento também destaca que ferramentas como o Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo (MDL) e a redução de emissões por desmatamento e degradação, conservação,
manejo florestal sustentável, manutenção e aumento dos estoques de carbono
florestal (REDD+) oferecem uma grande oportunidade de crescimento sustentável
para os países em desenvolvimento.
Sobre
a manufatura, o PNUMA afirma que o setor responde por 35% do uso de energia e
por mais de 20% das emissões de gases do efeito estufa mundiais, além, é claro,
dos impactos da poluição. Felizmente, segundo o relatório, cada vez mais
empresas estão se dando conta de que adotar práticas ambientais abre portas
para novos mercados e consumidores.
“Entre
1999 e 2009 houve um aumento de 1500% na procura pelo ISO 14001, que certifica
o gerenciamento ambiental [...] Também está sendo registrado o crescimento da
adoção de estratégias de eficiência, que visam lidar com os custos da energia e
matéria-prima.”
Como
um exemplo dessas estratégias, o relatório destaca o conceito da “economia
circular”, que foi adotado no plano quinquenal chinês de 2006 a 2010. Segundo
essa noção, todas as empresas do país devem colocar ênfase máxima no uso
eficiente dos recursos e no reaproveitamento de materiais originários de outros
processos industriais.
Com
isso, o governo chinês teria impulsionado o setor de remanufatura, ou seja, as
empresas que trabalham com a reutilização de produtos usados. Os números
oficiais apontam que esse setor passará a movimentar mais de US$ 6,5 bilhões em
2015, um salto gigantesco dos US$ 320 milhões registrados em 2011.
Sobre
as energias renováveis, o PNUMA afirma que elas têm um papel fundamental para
ajudar a atender a crescente demanda global, que deve aumentar em mais de 30%
até 2035.
“A
fatia das renováveis já está perto dos 20%. Com a capacidade continuando a
crescer e os preços a cair, é provável que essa participação aumente rapidamente.
O maior uso de fontes limpas traz benefícios econômicos, climáticos, ambientais
e de saúde pública.”
O
relatório mostra que em 2010 mais de 3,5 milhões de pessoas já estavam
trabalhando direta ou indiretamente no setor de energias renováveis e que as estimativas
para 2030 são de que 12 milhões estejam empregadas na área de biocombustíveis,
2,1 milhões, na eólica, e 6,3 milhões, na solar.
A
queda dos preços desse tipo de tecnologia também é marcante, com o custo da
geração solar caindo mais de 30% entre 2011 e 2012.
Para
o turismo, o PNUMA destaca que a área que mais cresce é justamente o
ecoturismo.
“Muitas
nações em desenvolvimento podem tirar grande proveito de suas qualidades
ambientais para impulsionar a indústria do turismo [...] Proteger a natureza
nessas regiões é uma clara oportunidade de crescimento econômico que não
deveria ser desperdiçada.”
De
acordo com o relatório, áreas de reserva na Costa Rica, por exemplo, recebem
mais de um milhão de visitantes por ano, movimentando cerca de US$ 5 milhões.
No entanto, é o México que mais está tirando vantagem de suas belezas naturais,
sendo que as zonas protegidas do país recebem 14 milhões de turistas
anualmente, gerando mais de 25 mil empregos.
Desafios
Apesar
de reconhecer que a transição para a economia verde está se acelerando, o PNUMA
lista uma série de questões que ainda precisam ser melhoradas e incentivadas.
São
necessários mais investimentos em infraestrutura, assistência técnica e
programas de educação para facilitar a expansão das energias renováveis, por
exemplo. Também para esse objetivo, seria fundamental acabar com os subsídios
que são destinados anualmente para a exploração das fontes fósseis.
Também
é preciso criar legislações nacionais que incentivem a adoção de padrões e
certificações. Assim como a União Europeia baniu o comércio de madeira ilegal,
outros países devem fazer o mesmo. Isso vale também para setores como a pesca e
a agricultura.
A
cooperação internacional precisa ser estimulada, a criação de redes de comércio
responsável ajuda mais empresas a optarem por práticas sustentáveis. Agências
como a organização mundial do comércio e entidades privadas devem promover
debates sobre como melhorar o acesso das indústrias de nações em desenvolvimento
que adotem modelos de baixo carbono aos crescentes mercados de consumidores
conscientes nos países ricos.
“Estou
seguro de que governantes e empresários podem encontrar inspiração nesse
relatório para promover novas oportunidades que estão surgindo da transição
para a economia verde”, escreveu Steiner no relatório.
Fonte: Carbono Brasil (15.05.2013) Autor: Fabiano Ávila
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