Floresta Amazônica - Manaus-AM |
O sistema de vigilância do desmatamento em tempo de real na Amazônia, o
Deter, vai ganhar um reforço. Até o fim do ano, o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais, Inpe, vai colocar um radar em operação para detectar as
áreas com mais precisão. Isso quer dizer também que a cobertura de nuvens não
irá mais restringir o trabalho de monitoramento.
O radar vai a bordo do Alos 2, que será lançado pela agência espacial japonesa, Jaxa, parceira do Brasil. E vai trabalhar com uma frequência chamada Banda L, adequada para a detecção do início do desmatamento. A promessa é de controlar 90% das áreas de risco de degradação. Segundo Dalton Valeriano, coordenador do sistema, o Deter oferece atualmente dados ao Ibama com uma margem de erro menor que 10%.
O Deter começou a operar em 2004 e os sensores utilizados desde então já
estão obsoletos. “O satélite tem uma resolução fixa de 250 metros de distância.
Caso ele tente fazer mais que isso, há uma perda total da qualidade das
imagens. Por isso, resolvemos utilizar o radar”, disse.
O radar capta mais áreas de desmatamento e de degradação, pois sua
capacidade não se limita com o aparecimento de nuvens. No caso do satélite, a
vigilância é feita com clareza em épocas de seca. Quando chove, o controle é
mais difícil e o processo de entrega da relação de dados é mais longo. O atraso
também influencia negativamente qualquer tentativa de controle do desmatamento.
Avanços tecnológicos – O sistema de vigilância em tempo real orienta a
fiscalização na Amazônia. Desde sua criação, ele contava com um satélite de
imagens compostas – chamado de mosaico Modes – de difícil precisão, por captar
todas as sombras de nuvens ao redor da possível área desmatada. Em 2005, o
Deter passou por uma evolução. O satélite contava com um sensor de imagens de
reflectância. O tempo entre a última análise e confecção do relatório oficial
entregue para o governo passou a ser de um mês.
A partir de 2008, entrou em ação o sensor Rapid Respost, usado pela Nasa
para a captação de queimadas. Com esse tipo de tecnologia, o relatório de
imagens registradas está sempre disponível no mesmo dia – e o tempo de entrega
dos dados para a análise do Ibama reduziu pela metade.
Desde 2011, a seleção das melhores imagens e os relatórios finais do
Inpe são entregues no mesmo dia. “O sistema melhorou tanto que nós só não
estamos entregando hoje as imagens de ontem porque nós paramos aos fins de
semana”, adicionou Valeriano em entrevista para a DW Brasil.
Vigilância confiável – Sobre a confiabilidade dos dados captados e das
imagens selecionadas pelo Deter, Valeriano admite que o programa deixa algumas
lacunas. O Deter é “inconfiável para o mapeamento anual”, relata. O radar seria
um complemento para o satélite já existente – a checagem de todas as
informações antes que elas se tornem oficiais é fundamental.
O Inpe reúne todos os dados captados pelo Deter e entrega ao Land Sat,
responsável por uma segunda comparação, antes que os dados sejam transferidos
para o Ibama. “Na Amazônia não tem jeito de fazer uma imagem em larga escala
limpa de nuvens. Mas até que o governo libere as informações como oficiais, nós
temos um mês para fazer comparações e reduzir as margens de erro”, conta.
Imazon vigilante – Só em junho último, o Imazon identificou 184
quilômetros quadrados de desmatamento na Amazônia Legal por meio do Sad,
sistema parecido com o Deter. A organização não-governamental trabalha de forma
independente. O número representa um aumento de 437% em relação a junho de
2012. De agosto do ano passado a junho de 2013, a degradação totalizou 1.838
quilômetros quadrados.
Segundo Alberto Veríssimo, pesquisador e cofundador do Imazon, a
utilização do radar não deve frear o desmatamento. “Pelas análises do Sad, a
estimativa é de que o desmatamento aumente em 80% nos próximos anos. Mas o Brasil
está com a luz de alerta ligada. O país ainda tem instrumentos para controlar
esses números. É importante que o governo corrija algumas falhas que cometeu do
ano passado para cá, para que a redução contínua do desmatamento seja uma
realidade”, refere-se ao aumento da destruição recente da floresta depois do
anúncio do menor índice, em 2012, desde o início do monitoramento.
Em 2004, o corte da floresta atingiu 28 mil quilômetros quadrados, o
equivalente à área da Bélgica, segundo os dados do Sad. Em 2010, o número
reduziu para sete mil. Já em 2012, a área desmatada caiu para 4.800 quilômetros
quadrados. Sobre as eventuais diferenças entre os dados do Imazon e do Inpe,
Veríssimo comenta: “O Sad tem uma maior constância na captação.”
Mesmo com a previsão do Imazon, Valeriano se mantém otimista e acredita
que as novas tecnologias serão capazes de vigiar com eficiência a floresta.
“Para o futuro, os sistemas vão estar mais aprimorados e com uma captação bem
maior. Se todos os satélites estiverem em funcionamento, pode haver uma
abrangência total das áreas não observadas. E nós estamos nos adaptando para
acompanhar essa evolução.”
Fonte: REMADE/Terra
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