Florestas integradas ao cultivo: o desafio brasileiro de diminuir a pegada de carbono na agricultura
Em 40 anos, o Brasil deixou de ser importador de alimentos e produtos agrícolas para ser uma das maiores potências mundiais desses produtos. O ganho na produtividade e aumento na eficiência do cultivo fizeram o agronegócio crescer e ganhar peso dentro do PIB nacional. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) aponta que, englobando toda a cadeia produtiva (insumos, agropecuária, indústria e serviços), a estimativa de participação é de 23,5% no PIB de 2017, com projeção de crescimento para este ano.
Ao mesmo tempo, o setor de Uso de Terra no Brasil tem uma grande pegada de emissão de carbono: cerca de 70% de todas as emissões de gases do efeito estufa (GEE) provém daí. A agricultura, pecuária e outras atividades extrativas têm impacto direto nesse índice. Por isso, há uma enorme necessidade de repensar e reformular a produção para controlar danos ambientais. André Guimarães, co-facilitador da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e diretor executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), destaca esse como o grande desafio brasileiro. “Estamos no desafio de continuar a melhorar a qualidade e produtividade da produção enquanto a gente reduz o desmatamento – ou seja, crescendo verticalmente, e não horizontalmente”, relata.
Guimarães cita duas alternativas para conseguir alcançar essa meta e que devem ser pensada concomitantemente. Em áreas já aberta e produtivas, é necessário investir mais em tecnificação para aumentar a produtividade, mudar práticas de uso de solo para aumentar a produção em unidade monetária e volume. O segundo bloco de ações se refere a áreas que ainda não estão desmatadas. Alguns exemplos são premiar agricultores que tem excedente de reserva legal, criar pagamentos de serviço ambiental ou desenvolver atividades econômicas que pressupõe a floresta em pé, com serviços e produtos florestais não madeireiros. “É uma combinação de melhorar o uso das áreas abertas junto com a valorização dos ativos que estão em pé. Você vai ter uma paisagem produtiva otimizada e a valorização de áreas que estão em pé”, resume.
Em áreas em que já há uma produção, há diversos tipos de reformulações que podem ajudar a reduzir a pegada de carbono. No entanto, Guimarães ressalta a importância de se analisar cada propriedade e negócio antes de implementar soluções. “Existe, na realidade, um perfil de uso de solo bastante variado na agricultura e pecuária. A gente tende a generalizar o uso de solo, mas ele é bem heterogêneo”, alerta. Sistemas agroflorestais, por exemplo, combinam atividades produtivas diferentes de diferentes ciclos e ajuda a aumentar a renda por hectare. No entanto, em uma grande escala, é muito mais difícil de ser concretizado. Nesses casos, há o sistema agrossilvipastoril: integrar lavouras, com espécies florestais e pastagens, com culturais mecanizáveis. Esse tipo de sistema também permite uma utilização mais eficiente da área.
Fonte: O Estadão - Economia & Negócios
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