"Então, o que impede que se invista mais em florestas?" (Foto: surajith/Pexels) |
Vivemos numa época em que os recordes de temperaturas altas do planeta vêm sendo quebrados ano a ano, quase que ininterruptamente, desde 2001. O mais quente de todos foi 2016: 0,99 oC acima da média do século 20, como anunciou, em janeiro, a NOAA, órgão norte-americano para assuntos sobre meteorologia, oceanos, atmosfera e clima. Diante desse cenário, muitos caminhos começam a ser construídos para cumprir o Acordo do Clima, firmado em Paris, em 2015, e conter a elevação da temperatura do planeta em menos de 1,5 oC, até 2100.
Acontece que diminuir o desmatamento e reflorestar — em outras palavras, manter florestas em pé e aumentar suas áreas — é atualmente a maneira mais efetiva e competitiva, em termos de custo, de mitigar o aquecimento global, segundo estudo da Mckinsey de 2007. Ou seja, plantar árvores traz enorme benefício para o clima e para o planeta, e o melhor: dependendo do modelo de plantio esse é um ótimo negócio, também, do ponto de vista financeiro.
Portanto, esse é o momento para a agenda de restauração florestal e de reflorestamento decolar, ganhar escala e entrar em qualquer portfólio de investimentos. Atrair capital público e privado para novos modelos de negócios nessa área será, inclusive, fundamental para cumprir uma das metas da NDC brasileira (os compromissos do país para o Acordo de Paris) de restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares até 2030.
Investir em árvores pensando em rentabilidade financeira não é novidade no Brasil. Já aconteceu com as chamadas florestas plantadas (pinus e eucalipto). No caso do eucalipto, a produtividade triplicou em um período de 40 anos. A maior parte do sucesso obtido aqui pode ser atribuído à tropicalização da silvicultura, isto é, um jeito nosso e próprio de cultivar essas árvores. Algo que só foi possível graças a recursos aportados em pesquisa e desenvolvimento (P&D).
O mesmo pode ser feito com espécies de árvores nativas do país. O desenvolvimento e a aplicação de tecnologias criarão a base para uma nova economia florestal tropical, que por sua vez abrirá caminhos para o reflorestamento em larga escala. Entre os muitos modelos de plantio possíveis, há aqueles com fins econômicos, que permitirão reflorestar com espécies nativas, mas ao mesmo tempo fazer uso comercial delas.
Então, o que impede que se invista mais em florestas? Uma das principais barreiras, constatadas em discussões internacionais — bem como em uma série de workhops promovida no país pelo Projeto VERENA (Valorização Econômica do Reflorestamento com Espécies Nativas) —, é a falta de incentivo a P&D para nativas. O VERENA identificou que é preciso implementar um programa pré-competitivo nesse sentido — um programa que responda às perguntas básicas de quem quer investir.
Por exemplo: por que espécies nativas ainda não são usadas em escala comercial? Quais espécies já foram domesticadas (estão dentro de um sistema de produção, com algum grau de melhoramento)? Como estimular/adotar plantios com modelos biodiversos (várias espécies cultivadas dentro de mesmo sistema)? Onde e em que estado de conservação estão os bancos de pesquisa e material genético dessas espécies (germoplasma)? Por que o eucalipto se tornou um caso de sucesso? A partir daí, será possível identificar quais espécies nativas podem ter sua produtividade aumentada, quais darão retorno financeiro mais rapidamente, quais serão mais valiosas no mercado e assim por diante. Isso inserirá as florestas na visão de futuro de investidores.
Programas de P&D levam décadas para mostrar grandes resultados, o que implica grandes investimentos por um período maior de tempo. Mas a boa notícia vem novamente do Acordo de Paris. O artigo 10 do tratado do clima estabelece uma visão de longo prazo sobre a importância do desenvolvimento e da transferência de tecnologias para reduzir emissões de gases do efeito estufa. Isso significa que países em desenvolvimento poderão captar recursos por meio de fundos bilateriais e multilaterais com o propósito de financiar tecnologias, como a de desenvolvimento de espécies arbóreas.
Não há dúvida de que a implantação de um programa pré-competitivo e robusto promoverá, no curto prazo, a melhoria no ambiente de negócios para o reflorestamento com nativas (menos risco ao investidor, com perspectivas de aumento de produtividade e, consequentemente, maior retorno econômico). Em suma, o acelerador para a implementação do que foi acordado em Paris passará pelo desenvolvimento de espécies nativas. Que tal investir nessa área?
Fonte: Huffington Post Brasil / WRI Brasil
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